13 Análise Espaço-Temporal

13.1 Alguns Conceitos

“Senhores, as idéias sobre espaço e tempo que eu gostaria de falar a vocês nasce do solo da física experimental. É daí que provem sua força. A proposta é radical. De agora em diante, espaço por si só e tempo por si só, devem desaparecer nas sombras, enquanto somente a união dos dois preserva sua independência.”

Minkowski, setembro de 1908

  • O interesse na distribuição espaço-temporal esteve presente desde os primórdios da epidemiologia.

  • Entretanto só recentemente tem sido utilizadas técnicas que permitem a incorporação das dimensões tempo, espaço e somente recentemente a interação espaço-tempo.

13.2 Processo de difusão das doenças

Um exemplo de simulação por multi-agentes

13.2.1 Difusão Espacial

** Difusão** - dispersar a partir de um centro, disseminar, propagar, espalhar.

Em geografia utiliza-se 2 conceitos:

  • Difusão por expansão: Quando um material, uma informação, etc… se espalha de um local p/ o outro, permanecendo (ou até mesmo se intensificando) na região inicial.

Ex: doença transmissível.

  • Difusão por realocação: Quando o material difundido deixa a área original e se move p/ novas áreas.

Ex: Movimentos migratórios.

  • Difusão por expansão também pode ocorrer através de uma seqüência de classes locais, neste caso é denominado espalhamento hierárquico (ex: moda, bens de consumo), que tendem a passar por classes sociais diferentes e se irradia a partir das grandes metrópoles.

  • Difusão em cascata é um caso particular, onde a difusão sempre se dá dos grandes centros p/ os menores.

  • Na geografia houve um grande interesse por modelos de difusão desde do inicio do século, e se intensificou a partir da década de 50 com o trabalho pioneiro de Hägerstrand. Um dos principais interesses dos geógrafos eram os modelos de difusão de inovações tecnológicas.

  • Na epidemiologia, por outro lado, devido a influência de Ross e Hamer, os modelos compartimentais foram mais utilizados.

13.2.2 Espacializando a difusão das doenças

  • O principal desafio é como introduzir as dimensões espaço e tempo na modelagem da difusão das doenças transmissíveis.

  • Qual o impacto do espaço e da interação espaço-tempo ?

  • Eles são capazes de mudar parâmetros inferidos para a interação das populações envolvidas ?

  • São capazes de trazer novidades na análise e interpretação de resultados ?

  • Quais os possíveis modelos e maneiras de incorporar o espaço e tempo ?

13.2.3 Processo de difusão das doenças

  • Sob o ponto de vista da Ecologia, mais especificamente da dinâmica de populações uma doença transmissível, é o resultado da interação entre pelo menos 2 espécies (parasita X hospedeiro).

  • Também na ecologia os modelos de crescimento populacional, interação entre espécies, competição e etc… apesar de utilizarem o tempo em suas equações de crescimento Lotka-Volterra não incorporam a dimensão espaço.

  • A introdução do espaço nos modelos, mesmo com uma única espécie, é capaz de alterar a inferência dos parâmetros a respeito da dinâmica desta espécie.

13.2.4 Modelos de difusão de doenças

  • No início do século XX surgiram os primeiros modelos de transmissão de doenças , que consideravam que o curso de uma epidemia deveria depender do número de suscetíveis, das taxas de contato entre os indivíduos infectados e suscetíveis e do número de infectados.

  • A partir daí, diversos modelos determinísticos foram empregados permitindo inferir parâmetros de epidemias.

  • À medida em que o interesse se volta para pequenas populações e eventos raros, foram introduzidos modelos estocásticos.

  • No entanto, a medida que se adiciona variáveis (por exemplo, estrutura etária, populações de vetor) esses modelos se tornam muito complexos, dificultando ou impossibilitando uma solução analítica.

  • Neste contexto pode-se empregar métodos numéricos ou simulações na estimação parâmetros. No entanto a inclusão do espaço e tempo dificultam em muito ou mesmo inviabilizam a convergência nessa classe de modelos.

  • Os avanços recentes na modelagem espaço-temporal empregam modelos bayesianos (MCMC) espaço-temporais.

13.3 Analise Exploratória Espaço-temporal

Animação da Taxa bruta dos Homicídios em homens de 15-49 anos no sudeste de 1980 a 1998

Ver animação taxa bruta

Animação da Taxa suavizada no tempo (media móvel) e no espaço (Kernel 2d) Homicídios em homens de 15-49 anos no sudeste de 1980 a 1998

Ver animação suavizada (tempo e espaço)

13.4 Cluster Espaço-Temporal

  • Um cluster (conglomerado) é definido como uma região cujo risco de ocorrência de um fenômeno é alto quando comparado às demais áreas.

  • Objetivo: identificar áreas de risco elevado em áreas especı́ficas da região de estudo.

  • A estatı́stica Scan pode ser aplicada a dados espaciais, temporais ou espaço-temporais, para vários modelos de probabilidade.

  • Quando se trata de estudos com dados de contagem (por exemplo, número de homicídios por localidade) os modelos de probabilidade comumente usados são Poisson e de Permutação Espaço-Tempo.

  • Alternativa aos Índices I de Moran e C de Geary.

13.4.1 A estatı́stica Scan

O modelo Permutação Espaço-Tempo possui a mesma ideia básica do modelo Poisson, entretanto três caracterı́sticas o diferenciam:

  • Este modelo só trabalha com interação espaço-tempo, ou seja, procura apenas conglomerados que ocorrem no espaço e no tempo simultaneamente;

  • Têm a flexibilidade de trabalhar apenas com os casos, ou seja, não é necessário informação da população;

  • Seu modelo probabilı́stico resulta que os casos seguem a distribuição Hipergeométrica, sob a hipótese nula.

  • A estatı́stica Scan foi desenvolvida por Kulldorff e Nagarwalla (1995) e, para sua aplicação, a informação da área é associada a um único ponto dentro do polígono (ex: centróide).

  • O método então faz uma varredura por toda região em busca de áreas cuja ocorrência de um fenômeno seja significativamente mais provável.

  • A busca por conglomerados ocorre da seguinte forma:

    • Em cada centróide posiciona-se um cı́rculo de raio variável e calcula-se o número de ocorrências dentro do cı́rculo.

    • Caso o valor observado seja maior que o esperado, a região z delimitada pelo cı́rculo é chamada de conglomerado, caso contrário, o raio do cı́rculo é aumentado até envolver um novo centroide.

    • Este processo é realizado até que todos os centroides tenham sido testados.

  • A hipótese nula é de que não existe conglomerados na região de estudo.

  • As hipóteses são testadas por meio de um teste da razão de verossimilhança.

  • Simulação é utilizada para verificar a significância.

  • A estatı́stica Scan permite incorporar o fator temporal, ao invés de cı́rculo são utilizados cilindros.

  • Software SaTScan

13.4.2 Aplicação 1 - Leptospirose no Rio de Janeiro

Detection and modelling of case clusters for urban leptospirosis

Clusters ocorreram no verão com uma janela temporal de 14 a 25 dias.

13.4.3 Aplicação 2 - Arboviroses no Rio de Janeiro

Space–time dynamics of a triple epidemic: dengue, chikungunya and Zika clusters in the city of Rio de Janeiro

Zika cases clusters

Dengue, chikungunya and Zika multivariate clusters

13.5 Modelagem Estatística Espaço-temporal

  • Diversas estratégias podem ser empregadas para modelar fenômenos espaço-temporais. Sendo que esta área recentemente, diversas famílias de modelos tem sido propostos. A seguir mostraremos uma aplicação utilizando Modelo Hierárquico Bayesiano Espaço-Temporal.

  • Modelagem Espaço-temporal dos homicídios na Região Sudeste, utilizando Modelos Aditivos Generalizados Mistos (GAMM).

  • O modelo proposto segue uma distribuição de Poisson, onde o numero de casos de homicídios em cada município num determinado ano é dado por:

    • Componente de tendência temporal;

    • Componente espacialmente estruturado;

    • Componente espacial não estruturado (aleatório);

    • Efeito de pertencer ou não a um determinado estado;

    • Pertence ou não a uma região metropolitana.

Modelo aditivos generalizados mistos (GAMM):

\[y_{it} \sim Poisson(\lambda_{it})\]

\[log(\lambda_{it}) = offset(pop) + \beta_i\sum x_{ik} + f^{tend}_{tempo} + f^{sazonal}_{tempo} + f^{estrut}_{espaço} + f^{ñestrut}_{espaço}\]

Sendo \(\beta_i\sum x_{ik}\) os efeitos fixos.

13.5.1 Alguns resultados

13.6 Bibliografia sugerida

Bernardinelli L, Clayton D, Pascutto C, Montomoli C, Ghislandi M, Songini M. Bayesian analysis of space–time variation in disease risk. Stat Med. 1995;14:2433–2443.

Diggle,P.J.; Chetwynd,A.G.; Haggkvist,R.; Morris,S.E. (1995). Second-order analysis of space-time clustering. Statistical Methods in Medical Research 4 , 124-136

Waller LA, Carlin BP, Xia H, Gelfand AE. Hierarchical spatiotemporal mapping of disease rates. J Am Stat Assoc. 1997;92:607–617.

Knorr-Held L, Besag J. Modelling risk from a disease in time and space. Stat Med. 1998;17:2045–2060.

Knorr-Held L. Bayesian modelling of inseparable space–time variation in disease risk. Stat Med. 2000;19:2555–2567.

  • Online

Geospatial Health Data: Modeling and Visualization with R-INLA and Shiny